sexta-feira, 3 de junho de 2011

CONSIDERAÇÕES FINAIS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todas as coisas discutidas chega-se à conclusão que deve se atribuir aos magistrados o zelo das leis e das instituições da cidade, uma vez que, estes conhecem a essência de cada coisa. Sendo, portanto, capazes de aliar a experiência à especulação. Assim, é a eles e não a outros que se deve confiar o governo da cidade. Os magistrados por amarem sempre a ciência, por dar-lhes a conhecer a essência eterna, não estando sujeito às vicissitudes da geração e da corrupção daí concede-se a eles o caráter filosófico. Amam a verdade, uma vez que, quem ama a ciência, deseja acima de tudo aprender toda a verdade, diz Sócrates: Logo, quem ama de fato a ciência deve, desde a juventude, desejar tão vivamente quanto possível apreender toda a verdade (A República, Livro VII. p. 193)
Aquele mais apto a governar a cidade é o que tem mais facilidade de apreender a reter o conhecimento, neste caso, o filósofo. Alguém que tem uma alma esquecida jamais terá tendência à filosofia. O verdadeiro filósofo é um espírito repleto de moderação, mnemosine e graça, cujas, tendências inatas guiarão facilmente para a essência de cada ser. Conseqüentemente será amigo da verdade. É a estas almas amadurecidas pela educação e pela idade que se deve, portanto, confiar o governo da cidade. No entanto, Adimanto e Sócrates reconhecem que os tais Reis-Filósofos são inúteis. Mas, retomam tal questão, a partir da imagem do comandante de um navio e a sua importância para a segurança da navegação, assim é também o Rei-Filósofo.
Partem, então, em busca das outras vicissitudes que compõem o temperamento filosófico, tais como, a coragem a grandeza de alma, a facilidade de aprender e a memória. Diz Sócrates:
- É preciso agora enumerar as outras virtudes que compõem o temperamento filosófico? Como te recordas, vimos desfilar a coragem, a grandeza de alma a facilidade em aprender e a memória. (...).
(A República, p. 199)
Para enfatizar ainda mais tal Questão, Sócrates passa a tecer considerações sobre o falso filósofo, a partir das degradações do temperamento. Tais como:
(...), como se pode no maior número, como só escapa à corrupção em alguns, aqueles a quem denominamos não perversos, mas inúteis; consideraremos em seguida aquele que afeta imitá-lo e atribui a si mesmo uma função: quais são os temperamentos que, usurpando uma profissão de que são indignos e os ultrapassa, chegam a mil desvios e associam à filosofia essa deplorável reputação que assinalas.
(A República, p. 199)
Assim no Livro VII de A República Platão, pela boca de Sócrates argumenta sobre a educação pela alegoria do Mito da Caverna, esta constitui o foco principal na formação dos futuros guardiães. Mas como escolher, dentre eles, o mais apto para governar a cidade? Platão entende ser necessário submeter os educandos a duras provas de habilitação, as quais incluem avaliação da faculdade mnemônica, da resistência à dor e à sedução e da capacidade demonstrada na execução de trabalhos árduos. Os aprovados nesses exames devem prosseguir no processo educativo, estudando matemática e, posteriormente dialética. Aos reprovados cabe trabalhar para a comunidade, prestando os mais diversos serviços: comércio, manufatura de bens de consumo, etc.
Conseqüentemente Platão aponta que na formação dos guardiões e, em particular, do governante, exige, posteriormente, dedicação e esforços ainda maiores por parte dos educandos. Assim como, nossos olhos não conseguem contemplar o sol, fonte de toda luz no mundo visível, o Bem, ideia suprema que governa o mundo supra-sensível, não pode ser contemplado se os olhos da alma não forem cuidadosamente preparados para esse fim. A situação, ilustrada pela bem conhecida alegoria da caverna, prevê que o homem possa se libertar dos conhecimentos falsos, enganosos, gerados pela opinião (doxa), que, são apenas sombras ou simulacros dos conhecimentos verdadeiros. Tal ruptura, porém, não é imediata, pois, aquele que foi acostumado a viver nas sombras, quando olha pela primeira vez o sol, tem sua vista ofuscada e se recusa a continuar a observá-lo. O mesmo se dá com respeito às verdades e à ideia do soberano Bem. Por essa razão, os estudos a serem feitos posteriormente (matemáticas e dialéticas) devem prosseguir por muitos anos a fim de revelar quem possui alma de filósofo.
Segundo assinala Werner Jaeger (1995, p. 841-842), para Platão o verdadeiro espírito filosófico é aquele que não se deixa perturbar pela variedade das opiniões, tendo como meta alcançar a unidade na diversidade, isto é, “Ver a imagem fundamental, universal e imutável das coisas: a ideia”.
Portanto, O Político é a educação que revela, para o conjunto dos cidadãos, o melhor governante é uma ascese espiritual: a alma que atinge o topo do conhecimento se acha em plenas condições de governar, mas não deve se julgar superior aos demais homens e mulheres. Ao contrário, deve retornar ao mundo de sombras em que eles vivem e, graças ao seu olhar mais acurado, ajudá-los a ver com maior nitidez no escuro. O rei-filósofo não tem, portanto, como ideal de felicidade chegar ao poder para ser honrado por sua sabedoria ou para adquirir prestígio e riqueza; ele não cultiva qualquer tipo de orgulho e é feliz por ser o educador maior de todos. Aquele que governa para fazer de seus concidadãos homens e mulheres melhores.
Podemos concluir então como abordado ao longo de todo o diálogo, O Político, que os homens desde que foram abandonados à própria sorte pelos deuses. Necessitam obrigatoriamente de um líder que os represente na resolução de todos os problemas, na busca de uma cidade mais justa possível. Não podemos descartar também que este é o mais indicado para ser o magistrado, por estar mais próximo da ciência: arte política, podendo ser nomeado então como Rei-Filósofo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário