3.6 A medida relativa à justa medida
A partir, da pergunta feita anteriormente, o estrangeiro busca reflexões no intuito de responder o que é demasiado ou muito pouco diante do debate travado. Assim, segundo seu pensamento, a grandeza e a pequenez a tudo que constitui excesso ou falta, vai denominar de – arte da medida, que será dividida no seguinte: de um lado, na relação que possui entre si a grandeza e a pequenez; do outro, nas necessidades essenciais do devir, partindo do princípio que, o maior só é maior em relação ao menor, e o menor com relação ao maior exclusivamente. Comenta:
ESTRANGEIRO
— Não iríamos destruir, com tal pretensão, as artes e tudo o que elas produzem, e abolir, por outro lado, a própria política que procuramos definir e essa. arte da tecedura que acabamos de estudar? Pois podemos afirmar que, para todas essas artes, aquilo que se situa aquém ou além da justa medida não é uma coisa irreal; é, ao contrário, uma realidade desagradável que elas procuram afastar de suas produções, e é preservando a medida que elas asseguram a bondade e a beleza de suas obras.
(O Político, 284 b)
ESTRANGEIRO
— A de que o princípio de que falamos ser-nos-á necessário um dia para demonstrar em que consiste a exatidão em si. Entretanto, limitando-nos àquilo que, para nosso propósito atual, se acha bem e suficientemente provado, creio que encontramos magnífico auxílio neste raciocínio, que declara igualmente certas as duas afirmativas: de um lado, a de que todas as artes são realidades, e, de outro, a de que o grande e o pequeno são avaliados não somente por sua relação recíproca mas também com relação ao estabelecimento da justa medida. Pois, se esta última relação existe, as artes existem também, e se as artes existem, esta relação existe; abolida uma destas existências, a outra jamais será possível.
(O Político, 284 d)
Feito todo esse discurso sobre os pressupostos para se chegar ao debate principal que é a questão do político, o argumento é retomado no capítulo seguinte: A norma verdadeira, a síntese dialética. Depois de ter separado o Rei de todas as artes que possui o mesmo domínio, e em especial de todas àquelas relativas aos rebanhos, retorna-se ao discurso da tecedura, com foco nas artes auxiliares que sem as quais não haverá Polis nem Política. Assim, tudo que se refere a alimento e a todas as coisas que dão suporte ao corpo físico é chamada de alimentação ou na escala proposta a arte sétima. Atribuídos à agricultura, caça, ginástica, medicina e cozinha, serão eventos diretamente ligados à política. Em função das outras:
ESTRANGEIRO
— Assim, quase todos os bens suscetíveis de serem possuídos, salvo os animais domésticos, estão incluídos nestes sete gêneros. Vê: era justo mencionar em primeiro lugar a espécie primitiva; a seguir o instrumento, o vasilhame, o veículo, o abrigo, o divertimento, o alimento. Omitimos coisas que, dada sua pequena importância, ficaram esquecidas e que poderão ser incluídas em qualquer destas espécies, tais como a arte de cunhar moedas, selos e estampas. Pois esses objetos não contêm nada de específico que os habilite a figurar ao lado dos demais; ao contrário, classificar-se-ão, uns na ornamentação, outros com um pouco de esforço, concordo, no final de contas poderão ser classificados entre os instrumentos. Quanto aos animais domésticos, à parte os escravos, poderemos facilmente incluí-los na arte de cuidar de rebanhos, anteriormente analisada.
(O Político, 289 b)
Já os homens livres que se dedicam voluntariamente aos serviços, trabalhando na agricultura e em outras artes, são colocados como intermediários e compensadores, armadores ou revendedores, será que estes têm pretensões políticas pergunta o estrangeiro. Sim, pelo menos pretensões comerciais, responde Sócrates, o jovem. Porém, com uma ressalva, pessoas como os arautos e todos aqueles que, à força de prestarem serviços, se tornam hábeis letrados; e a outros, cuja universal competência leva a múltiplos trabalhos junto às magistraturas, não poderão ser chamados de chefes possuidores de autoridades próprias das cidades, mas, sim como servidores do grande público. Ainda assim é dentre estes que surgem os mais declarados pretendentes à política.
Platão retorno ao mito para falar dos adivinhos (Oráculos), que de algum modo praticam uma ciência útil, como interpretes dos deuses junto aos homens. E ainda à classe sacerdotal, que segundo os costumes, ofereciam sacrifícios aos deuses, com algum tipo de petição em nome dos humanos. Comenta:
ESTRANGEIRO
— Eis-nos, pois, a meu ver, a caminho do fim a que nos propusemos, pois que os sacerdotes e os adivinhos parecem ter grande importância e desfrutam de grande prestígio pela grandeza de seus empreendimentos. Assim é que no Egito um rei não pode reinar se não possuir a dignidade sacerdotal e se, por acaso, apoderar-se do governo, pertencendo a uma classe inferior, deverá, finalmente, fazer-se admitir nesta última casta. Entre os gregos também, na maioria das vezes, é aos mais altos magistrados que se confia a tarefa de realizar os mais importantes desses sacrifícios, e entre vós, aliás, parece verificar-se claramente o que digo, pois são também os magistrados que pela sorte se tornaram reis que se incumbem dos antigos e mais solenes sacrifícios consagrados pela tradição.
SÓCRATES, O JOVEM
— Perfeitamente.
(O Político, 290 e)
Junto a estes reis e sacerdotes, é necessário segundo o filósofo, verificar algumas coisas que os rodeiam a exemplo de algumas tribos numerosas com seres de aparências mitológicas como: leões, centauros e outros monstros, que a priori, são pessoas que agitam em torno na administração pública. Logo a seguir passa a analisar as mais diversas formas de constituições.
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