sexta-feira, 3 de junho de 2011

O HOMEM NO ESTADO DE NATUREZA


3.2 O homem no estado de natureza
Assim, para explicar a teoria do Rei, retoma a primeira parte do mito e diz que, quando o mundo passa pelo movimente reverso e desvia-se para o modo atual de geração, a evolução das idades, uma segunda vez, volta ao sentido contrário àquele que então seguia. E percebeu-se que os seres vivos que se haviam reduzidos a quase nada voltaram a crescer e os corpos recém nascidos da terra tornaram-se grisalhos, definharam-se e voltaram à terra. Conseqüentemente todo o resto também, da mesma forma em sentido contrário, amoldando-se e regulando-se à nova evolução do universo; é neste ponto, observa Platão no que se refere especialmente à gestação, ao parto e à criação imitam e seguem o processo geral. Diz:
Já não era possível que o animal nascesse do seio da terra, por um concurso de elementos estranhos; uma vez que o mundo assim se tornara o seu próprio senhor, sujeito a dirigir a sua evolução, também as suas partes deveriam, por uma lei análoga, conceber, dar à luz e criar por si mesmas, na medida em que pudessem. E assim eis-nos agora chegados ao ponto a que se dirigia todo este raciocínio. No que se refere aos outros animais seriam necessárias muitas palavras e muito tempo para dizer qual era então a condição de cada espécie e por que influências ela se modificou; mas relativamente aos homens, esta exposição será mais breve e mais a propósito. Uma vez privados dos cuidados deste deus que os possuía e os mantinha sob sua guarda, cercados de animais dos quais a maior parte era naturalmente feroz, e que se tornaram desde logo selvagens, agora que também eles se viram sem força e sem proteção, os homens se tornaram presas desses animais. Nos primeiros tempos, não tiveram qualquer indústria ou arte; e foi desde este momento de grande abandono, em que seus alimentos deixaram de vir-lhes espontaneamente, e em que não sabiam ainda procurá-los, pois que nenhuma necessidade os havia, até então, obrigado a isso, que, segundo as antigas tradições, nos foram dadas, pelos deuses, lições e ensinamentos indispensáveis: o fogo por Prometeu[1]; as artes por Hefesto[2] e sua companheira; as sementes e as plantas por outras divindades.  
(O Político, 274 c)
Percebe-se então que, tudo o de que a vida humana é feita, nasce desses primeiros passos, quando os homens, como aponta o filósofo, vêem-se privados da vigilância divina devendo conduzir-se  a sós e zelarem por si mesmos, tal como o universo, pois, tudo que estes fazem é imitá-lo e segui-lo, alterando na eternidade e no tempo, estas duas maneiras opostas de viver e nascer.
No diálogo seguinte os interlocutores partem para determinar o gênero de governo que o político exerce sobre a cidade. No entanto, a figura do pastor divino ainda é muito elevada para um rei, nesse sentido, os políticos de hoje, sendo por nascimento muito semelhante aos seus súditos, aproximam-se deles, muito mais pela educação e instrução que recebem.
Mesmo assim, eles devem ser examinados igualmente, na intenção de ver se estão acima dos seus súditos, tal como pastor divino ou no mesmo nível.


[1] Prometeu: gigante amigo dos homens. Doou o fogo aos homens, contra a vontade de Zeus. Nesta versão, porém, o fogo é dádiva feita aos homens pelos próprios deuses.  (N.doT.)
[2] Hefesto: deus dos ferreiros. A companheira de Hefesto é Atena, protetora dos trabalhos manuais femininos, como o bordado. (N. do T.)

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