3.1 O mundo abandonado à própria sorte
Segundo o pensamento platônico, assim que se completou o tempo determinado para todas as coisas e chegando a hora em que deveriam ocorrer as mudanças, a raça nascida da terra desapareceu completamente e cada alma ao completar seu ciclo de nascimento, retorna à terra tantas vezes como sementes como determinara a sua própria lei. Então aquele que Platão chama de Piloto do universo, abandona, por assim dizer, a direção de tudo e encerra-se em seu posto de observação. Logo pela tendência natural, passa a mover-se em sentido contrário. Conseqüentemente todos os deuses locais que assistiam a divindade suprema em seu governo, compreendem prontamente o que se passava e também abandonam as partes confiadas aos seus cuidados. Assim:
E o mundo, subitamente mudando o sentido de seu movimento, de começo a fim, provocou, no seu próprio seio, um terremoto violento em que pereceram os animais de toda espécie. Depois, ao fim de um tempo suficiente, terminados os distúrbios e o terremoto, prosseguiu num movimento ordenado o seu curso habitual e próprio, zelando e governando, como senhor, tudo o que havia em seu seio, bem como a si próprio e relembrando, tanto quanto lhe fora possível, as instruções de seu criador e pai, de início, com maior exatidão, mas, ao fim, com crescente enfraquecimento. Esta falta se deveu aos princípios corporais que entraram na sua constituição, aos caracteres herdados de sua natureza primitiva, que comportava uma grande parte de desordem antes de alcançar a ordem cósmica atual. De seu construtor é que recebeu tudo o que tem de belo e de sua constituição anterior decorrem todos os males e todas as iniqüidades que se cometem no céu, e que daí passaram ao mundo, transmitindo-se aos animais. Enquanto desfrutava da assistência de seu piloto que alimentava aos seus, que viviam em seu seio, salvo raros fracassos, só produzira grandes bens; mas uma vez dele desligado, quando o mundo foi abandonado a si mesmo, nos primeiros tempos que se seguiram ainda procurou levar todas as coisas para o melhor; entretanto, com o avançar do tempo e do esquecimento, tornando-se mais poderosos os restos de sua turbulência primitiva que finalmente alcançou o seu apogeu, raros são os bens e numerosos os males que a ele se incorporam, arriscando-se à sua própria destruição e à de tudo o que ele encerra. Por esse motivo, o Deus que o organizou, compreendendo o perigo em que o mundo se encontra, e temendo que tudo se dissolva na tempestade e desapareça no caos infinito da dessemelhança, toma de novo o leme e recompondo as partes que, neste ciclo, percorrido sem guia, tombaram em dissolução e desordem, ele o ordena e restaura de maneira a torná-lo imortal e imperecível.
(O Político, 273 a, b, c, d, e)
essa é a mais pura verdade.
ResponderExcluir