3.9 A eliminação das artes auxiliares
A partir, deste ponto Platão começa o desfecho apontado que as artes auxiliares devem ser eliminadas, assim como, é feito a purificação do ouro. Separando, portanto, da Ciência Política, tudo aquilo que difere dela, que lhe é estranho e hostil. E conservando apenas as ciências preciosas: a ciência militar, a ciência jurídica e toda essa retórica aliada da ciência real, que, de comum acordo com ela, emprestando à justiça sua força persuasiva, governa toda a atividade no interior das cidades. Qual será, pois, o meio mais fácil de separá-las, revelando em estado puro e despido de toda a combinação o objeto que procuramos? ( 304 a).
Assim, recorre à música para explicar tal argumento, diz que a música, tão logo, como todas as outras artes que necessitam de exercícios manuais, requer, nesse sentido de uma aprendizagem. Conseqüentemente é uma ciência que decidirá da necessidade ou não de aprendermos esta ou aquela outra ciência. Isto por ser diferente das primeiras. Logo, a tal ciência que decide se é necessário ou não aprender e aquela que ensina, com um grande poder de persuasão em relação às massas e multidões, é denominada de retórica.
A política nesse sentido é a ciência de dirigir a todos, tendo cuidado das leis e dos assuntos referentes à polis e que une todas as coisas num tecido perfeito. Assim a política, verdadeiramente conforme à natureza, jamais consentiria em constituir uma cidade formada de bons e maus. Ao contrário começaria evidentemente por submetê-los à prova do jogo, e, terminada essa prova, confiá-los ia a educadores competentes e habilitados para esse serviço. Reservando, entretanto, a si o governo e a direção, a exemplo de como faz o tecedor com relação aos cardadores e a todos os demais auxiliares que preparam os materiais que ele usará mantendo-se constantemente junto deles para governar e dirigir todos os seus movimentos. Determinando com isto, a cada um, suas obrigações que julga necessárias ao seu próprio trabalho e tecedura. Encerrando o debate com a seguinte fala:
ESTRANGEIRO
— Eis, pois, terminado em perfeito tecido o estofo que a ação política urdiu quando, tomando os caracteres humanos de energia e moderação, a arte real congrega e une suas duas vidas pela concórdia e amizade, realizando, assim, o mais magnífico e excelente de todos os tecidos. Abrange, em cada cidade, todo o povo, escravos ou homens livres, estreita-os todos na sua trama e governa e dirige, assegurando à cidade, sem falta ou desfalecimento, toda a felicidade de que pode desfrutar. SÓCRATES, O JOVEM
— Excelente retrato, estrangeiro, que terminas, agora, do homem real e do homem político.
(O Político, 311 c)
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